Espelho


Um dia ela resolveu mudar a cor do seu esmalte porque ele dizia que era extravagante.
Depois ela mudou o corte do seu cabelo, franja era coisa de criança.
Aí ele disse que o seu batom “pink”vibrante não era bonito e que preferia “nude”. Era mais sério. Combinava mais. Ela mudou.
Então ela passou a beber espumante, porque whisky não era bebida de mulheres.
Passou a sorrir baixo porque ele dizia que era mais discreto.
Mudou seu guarda-roupa. Afinal, uma mulher casada não podia se vestir como uma garotinha.
Não saía mais com as amigas solteiras, eram más influências.
Mudou o seu time de coração. A sua cor favorita. O seu esporte. A sua música. Os seus sonhos.
Porque acreditava que estava fazendo a coisa certa.
Não discordava. Não emitia uma opinião contrária.
Era tudo por ele e para ele.
Era feliz. Era?
Deixou os seus hobbies. Os amigos dele, agora eram os seus amigos.
A vida dele era a sua. E assim viveu a sua vida. Viveu?
Feliz. Feliz?
Até que um dia se olhou no espelho e não sabia quem estava na sua frente.
Parou, pensou e se perguntou: – Opa! Cadê eu?
Adriana Freitas
A reprodução do texto está autorizada, desde que a fonte/autoria seja citada.

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